Udo, o que é cultura?

Desde o início do mês, o mundo das pessoas envolvidas com atividades culturais em Joinville está enlouquecido: o prefeito Udo, aquele que disse que ia resolver todos os problemas da cidade com uma gestão moderna, resolveu que vai unir sob a mesma administração o turismo, a educação, o esporte e a cultura. Vai extinguir a Fundação Cultural porque, segundo entrevista ao Blog do Loetz no portal ClicRBS “O modelo fundacional não serve mais para nada”. Ele ainda afirma que a cultura e a educação são naturalmente afins e que, essa reforma, aperfeiçoaria a administração. Então eu pergunto: Prefeito Udo, o que é cultura?
Aparentemente, o cargo máximo da autoridade executiva joinvilense usa esse termo cheio de senso comum. Desculpe-me, mas isso é imperdoável para um prefeito. Não que alguém que ocupe essa posição precise dominar todos os conceitos acadêmicos, filosóficos, sociológicos e etc., mas espera-se que pelo menos ele tenha gente especializada ao seu entorno, e que escute essas pessoas. Qual das duas coisas está faltando? Ou as duas? Porque há um grande problema quando se liga de maneira tão genérica conceitos tão diferentes como cultura, educação, turismo e esporte.
De modo muito simples (sendo assim, ainda um risco enorme), mas bem menos simples que se indicia com a tentativa de reforma no governo de Joinville, podemos pensar didaticamente num modelo: a nossa cultura estrutura a forma com que elaboramos nosso processo educacional formal e informal, além de gerar representações sobre o que é turismo, eventos e categorias esportivas. E, tudo isso por sua vez, influencia a construção da nossa cultura. Complexo? Talvez. E justamente por isso esses elementos não podem ser tratados com tanta superficialidade.
Da maneira com que a prefeitura está estruturando a sua reforma, o conceito de cultura está carregada de “perigo de elitismo”, sendo cultura apenas as manifestações e atividades oriundas dos nossos costumes. E, mesmo partindo do princípio de que o governo está cheio de boa vontade, essa reforma abre espaço para que no futuro próximo estejamos tratando Festival de Dança, festas ‘germanizadas’, JEC e outros eventos bastante específicos, como sinônimos de cultura joinvilense: aquilo que deve ser perpetuado através da nossa educação e vendido pelo nosso turismo.
Não prefeito, eu sinto muito, mas isso que o senhor esta pontuando cultura como algo simples o suficiente para poder estar soba mesma administração de educação, esporte e turismo. E essa ideia é só a sombra de um conceito que é muito mais complexo, rico e bonito. Deixo, para finalizar, um trecho da entrevista de Luís Henrique da Silveira a professora Dúnia Anjos de Freitas, e disponível no Laboratório de História Oral da Univille:
"E a Secretária fazia com maior dificuldade porque eram em três setores diversos: cultura, esporte e turismo. Dependia do secretário, se o secretário fosse homem da cultura, ele desenvolvia mais o campo cultural. Mas se fosse homem do turismo, desenvolvia mais o campo turístico, se fosse homem do esporte, desenvolvia mais o campo de esporte. Então eu criei a Fundação Cultural, inclusive eu tive uma grande decepção na Prefeitura, foi quando a Câmara negou-me a criação da Fundação Cultural."

Prefeito, esse passado onde a gente confundia essas coisas já passou, e até o seu querido mentor sabe disso – e olha que eu dificilmente concordo com o Senador.
Prefeito, não né?

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