Discussões facebookianas não me fazem mais forte

Pode se dizer que eu sinto uma espécie de decepção quando passo um tempo no facebook. Ou eu vejo reclamações rasas contra o governo petista ou eu percebo defesas cegas da era Lula/Dilma. No meu entendimento é uma tristeza ver que ainda existem pessoas que acreditam que um governo, que a vida mesmo, possa ser tão maniqueísta.
Desde o início da campanha eleitoral, no ano passado, já fui tachado raivosamente de ‘petista’ algumas vezes e, quem me conhece mais de perto, sabe que não poderia ser uma classificação mais equivocada da minha orientação política. Nunca votei no Lula e nunca votei na Dilma. Votei 13 uma vez, para Senador, e foi só. Considero-me crítico a esse governo, o que não significa que eu não ache que se avançou muito em sentidos sociais, políticos e econômicos desde 2002. O que me irrita é a superficialidade que vem se tratando as críticas ao governo nos últimos tempos: sinto que se quer criar uma imagem de que nunca estivemos tão mal, o que definitivamente é uma grande mentira.
Não conheço ninguém, ninguém mesmo, que tenha piorado econômica ou socialmente nesses últimos 12 anos. Não conheço ninguém que teve uma queda na qualidade de vida. Mas conheço muita gente que não tinha condições de sair do seu bairro no domingo pegando estrada; muita mulher que trabalhava em regime análogo ao de escravidão na casa da patroa (o famoso “quarto de empregada” sempre me pareceu uma senzala) e que agora têm alguns direitos respeitados; vejo cada vez mais a pluralidade cultural, sexual e qualquer tipo de diferença despontando na rua – e ganhando certo apoio governamental para tentar sair da sua situação de cidadãos de segunda classe. Se há críticas para serem feitas são relacionadas, justamente, ao fato de que o governo deveria ter se empenhado mais ainda para aumentar a celeridade dessa onda de mudanças. Digo sempre: esse governo precisava é ter sido de esquerda de verdade, e não um proto-esquerdismo conciliador frouxo.
Estamos passando por uma crise atualmente? Tenho poucas dúvidas! Mas cair nesse conto de que o Brasil está indo “pro buraco” é, no mínimo, ingenuidade. Estou em Praga há mais de quatro meses e em nenhuma das vezes que fui ao centro, numa caminhada ou num encontro com amigos, deixei de ouvir um grupo falando português pelas esquinas: nosso português. Se a população estivesse sendo “roubada” pelo governo, como tenho lido por aí, sobraria dinheiro pra dar uma volta aqui pelo Leste Europeu? Sem contar que normalmente se escuta esse discurso de “pro buraco”, “roubado pelo governo”, “estamos cada vez piores”, ao redor de mesas enfeitadas com um farto churrasco de carne de primeira.

Como eu disse pra um amigo essa semana, a situação hoje parece torcida do [grande e inigualável] Atlético e do Coritiba em dia de Atletiba: cada um torce raivosamente pelas suas cores. Dá até pra fazer um paralelo entre os cânticos da torcida e as palavras de ordem facebookianas: os generalistas “coxinha” ou os estúpidos “vai pra cuba!” e “impeachment”. Às vezes penso que já não se trata mais de uma discussão política, mas de um posicionamento identitario e classista – se alguém tinha dúvidas que a luta de classes ainda era forte na contemporaneidade, aí está o Brasil –, onde eu quero mostrar que eu não sou como aqueles outros, mesmo que eu nem bem entenda onde estou, o que eu sou e pra onde vai essa trupe a qual estou me unindo. Virou briga de irmãos, disputa entre amigos embriagados tentando dividir uma conta.

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