Crônica de uma morte anunciada

Na cidade de Guaratuba, há muitos anos, existe a promessa da construção de uma avenida, a Avenida Paraná, que serviria para ajudar no escoamento do tráfego durante a temporada e, fora desses três meses de intensa movimentação, desviar o trânsito pesado do centro da cidade. Durante várias campanhas eleitorais, a concretização dessa obra foi a carta na manga dos candidatos até que, na última administração municipal o plano começou a sair do papel. Até esse ponto, tudo bem.

Entretanto, esse processo de construção da avenida faz recordar novamente o livro de José Murilo de Carvalho “Os Bestializados”, bem como o texto do companheiro Maikon “De volta à idéia da Limpeza do século XIX", postado em seu blog Vivo na Cidade. Os dois trabalhos discorrem sobre o processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro que, no fim do século XIX e início do XX, acabaram agravando os problemas sociais nessa cidade, pois, a citada ação governamental favoreceu apenas os ricos daquela cidade. E agora, aqui em Guaratuba, novamente na busca de uma cidade mais “limpa” e mais “bonita”, deixa-se a margem os mais necessitados: a população novamente acaba ficando em segundo plano.

Acontece que a famosa Avenida Paraná atravessa um dos subúrbios mais carentes da cidade, conhecido como Vila Esperança, e a via não está sendo preparada para atender as necessidades dessa população. Simplesmente a avenida foi jogada em meio a um local de alto tráfego de crianças, idosos e pessoas que usam a bicicleta como meio principal de transporte, sem um planejamento para uma convivência segura de todos esses elementos. De um lado da rua há uma calçada estreitíssima (quando há) e, do outro lado, apenas mato e um enorme esgoto a céu aberto. Muitas vezes, e digo isso porque uso essa rota, bicicletas e automóveis se apertam sobre o asfalto, anunciando uma tragédia iminente.

Quando a obra estiver concluída terá uma ligação com a rodovia Máximo Jamur, conexão da cidade de Guaratuba com a cidade de Garuva e, conseqüentemente, com todo o estado de Santa Catarina. Essa estrada é muito utilizada por caminhoneiros provenientes do sul do Brasil que estão rumando a Paranaguá, pois, é muito mais barato passar pelo litoral paranaense do que subir a Serra do Mar até Curitiba e depois descê-la até o porto. Há épocas do ano em que o tráfego chega a ser intenso e, penso eu, se já existe uma guerra entre carros e bicicletas, como será quando estas tiverem de lutar contra os caminhões?

Soluções urgentes precisam ser pensadas para o local, modificações a serem feitas antes do fim da obra. Algumas dessas transformações são muito simples, tal como a construção de uma ciclovia e uma calçada sobre o espaço hoje ocupado pelo esgoto e pelo mato (há um espaço mais do que suficiente), e um controle efetivo de velocidade naquele trecho. O que não pode acontecer, não pode de maneira alguma, é deixar que em benefício dos mais abastados, que não querem ouvir o barulho de caminhões passando em frente a suas casas com vista para o mar, outra parte da população corra risco de vida. Onde estão Ministério Público, Governo Municipal e Governo Estadual que ainda não se atentaram para esse grande detalhe?

Um comentário:

Maikon K disse...

salve.
cara, isso mesmo, pensar a cidade é uma boa iniciativa para o blog, ainda mais quando se tá num lugar que as vozes dissidentes não são publicadas.....

vc deveria começar divulgar teu blog em comunidades de guaratuba,isso no orkut é claro..... vai ter mta gente te xigando, mas sempre pintará uma coisa e outra. o que vc me diz?

vc já pensou em pesquisar se por aí tiveram manifestações de esquerda ou até como foram os enfrentamentos entre brancos e indígenas, pescadores e turistas e assim vai ?

http://www.socioambiental.org/ e http://pib.socioambiental.org/
nas duas páginas vc poderá encontrar coisas sobre a presença indígenas e outras informações...

abraço
e saudades