Fones de ouvido

Hoje, no quase totalmente reformado Terminal de Integração Norte, fiquei uns 10 minutos dentro do ônibus esperando que ele partisse. Tempo suficiente para que algo chamasse a minha atenção: tinha muita gente com fones de ouvido. A parti daí divaguei.

Lembrei-me de um desenho animado que assisti há algum tempo, não lembro qual, mas acho que era Simpsons, onde todos passavam a usar fone de ouvido e não havia mais conversa entre as pessoas. Era literalmente uma barreira invisível criada por nós mesmos para não nos relacionarmos com quem está a nossa volta. Hoje presenciei duas pessoas sentadas lado a lado no terminal e, durante o tempo que eu fiquei esperando, elas sequer se olharam, era como se um não existisse para o outro. Eu tinha um mp3 player e vivia com o fone no ouvido para cima e para baixo, é um isolamento do mundo, um momento solitário onde nada de novo acontece em nossas vidas, nem mesmo as músicas, porque quase sempre estamos ouvindo algumas que temos em casa e já conhecemos.

Tenho um camarada que tinha uma namorada. Lembro de vê-los, andando de mãos dadas pelas ruas e ele com fones de ouvido! Já vi gente dando informações sem tirar o aparelho, não se cumprimenta mais ninguém na rua, estamos criando mundos paralelos onde, como solitários, ninguém nos incomoda.

Não se trata de algo nostálgico de “no meu tempo...”, mas de uma preocupação no sentido de até que ponto esse micro individualismo não se propaga para outros campos da nossa vida cotidiana se transformando em algo nocivo. Esse nosso universo criado no momento em que nos vestimos das duas pecinhas fonográficas em cada ouvido, essa caixa que não nos deixa ver quem está ao nosso lado, que evita o nosso encontro com outras pessoas, pode ser o reflexo ou vir a legitimar esse nosso mundo onde não enxergamos as pessoas que passam fome nas ruas, onde não vemos que o problema de um transporte coletivo de má qualidade é nosso, entre outras situações.

Talvez isso seja apenas dor de cotovelo porque não tenho mais como usar fones de ouvido e não tenho ninguém mais pra conversar no ônibus, mas esse processo de nos afastarmos das outras pessoas não pode ser algo positivo.

2 comentários:

Cibele disse...

éééé! tb nao tenho! meu mp3 está com ALGUÉM! hahahahaha

adoro seu blog baby!

Anônimo disse...

Olá!
Sou jornalista, meu nome é Débora e estou fazendo uma matéria sobre o isolamento social que aparelhos eletrônicos causam, além de danos físicos.
Vi seu texto na net e gostaria de ter seu contato para conversarmos, se você aceitar...
Poderia me passar seu e-mail? O meu é
derodrigues80@hotmail.com

Obrigada!