Separados por 500 anos

No sétimo capitulo do livro "O Príncipe", nosso amigo Maquiavel tece seus conselhos e seus exemplos sobre um príncipe que consigue chegar ao poder, ou dominar novas terras, não com seus esforços, mas por sorte ou sendo levado pelas armas de outros países. Discorre muito sobre a problemática de tal situação, porque “Não encontram grandes dificuldades para alcançar seu objetivo, mas todas as dificuldades aparecem quando lá chegam.”[1]
Durante toda a leitura, a narração de Maquiavel me remetia a fazer uma ponte com o atual governo brasileiro. Assumo que pode ser uma ligação um tanto quanto forçada, mas não posso deixar de apontar os passos que analisei.
Para inicio, vou discorrer sobre a ascensão ao poder. O duque Valentino, que o autor de “O Príncipe” usa como exemplo, chega até o domínio do território através da ajuda francesa (o que não significa que a França seja totalmente confiável, mas sim que há interesses desse país por de trás dessa ascensão), e seduzindo partidários contrários para a sua causa com concessões. A “ajuda francesa” do presidente Lula, não se faz muito clara para mim, mas a questão de concessões é muito aparente. Um partido, chamado dos trabalhadores, com todo um histórico de luta social e esquerdista, fazendo alianças governamentais com siglas e nomes do Brasil que sempre tiveram visões econômicas e políticas totalmente diferentes. Cito aqui a aliança com o antigo Partido Liberal, e atração de empresários como Antonio Ermírio de Moraes para o lado dos trabalhadores.
Na seqüência do livro, Maquiavel cita como o Príncipe conseguiu a confiança do povo. Fala sobre como ele faz um governo forte, através de um representante, e depois mata-o, dizendo não ser responsável por nenhuma das agruras que o povo havia passado, deixando toda a “culpa” enterrada com o antigo regente morto. Nesse ponto também consegui criar uma ligação do passado com o presente. Entre os sofrimentos que o povo brasileiro já passou, podemos citar o da corrupção. Essa conjuntura, infelizmente, não mudou durante os últimos anos de governo petista. Entretanto, Lula se coloca sempre no lugar do príncipe que não sabia o que estava acontecendo e “mata” os seus subordinados, deixando que esses fiquem com a marca da culpa. Foi assim com José Dirceu, Aloísio Mercadante, Antonio Palocci e outros. Ao que tudo indica, nesse exato momento nosso presidente está “matando” mais uma aliada política, Dilma Rousseff.
Assim, a figura do presidente vai se tornando cada vez mais forte. No caso do Príncipe, a sua ambição era a de ocupar novos territórios. Acredito que a ambição de Lula seja poder burlar as regras da democracia: ficar acima do bem e do mal. Não há necessidade, e mesmo que houvesse não há força para isso, do presidente sair conquistando novas terras[2], mas ele enxerga uma possibilidade de se manter mais tempo no poder, e isso é encantador.
Depois de aniquilado seus problemas presentes, que são os nomes fortes dentro do partido para substituí-lo, deve-se pensar nos problemas futuros. Isso Maquiavel também previu. E se o povo brasileiro não apoiar o tão almejado terceiro mandato? Mas a isso também já está se dando um jeito. Ele sabe que a idéia de permanecer no poder não pode partir dele. Isso pareceria golpe, lembraria demais nosso vizinho Hugo Chávez[3]. Assim, aos poucos, estão saindo vozes, como a do vice-presidente José Alencar: “O povo quer terceiro mandato para Lula[4]”. Somado a tudo isso, ainda há mais um passo que existe no livro “O Príncipe”: existe uma ausência quase que total de oposição ao governo. O presidente praticamente não tem a quem temer.
Desse modo, percebe-se como um livro escrito à praticamente quinhentos anos atrás, ainda consegue explicar uma forma de governar. O poder está sempre em busca de aumentar sua força, e é praticamente inútil a tentativa de não se render ao seu magnetismo. Então, se nada na saúde de Lula mudar, ele poderá conseguir todos os seus objetivos.


[1] MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo : Martin Claret, 2007.
[2] Se essa discussão passar para o ponto de vista econômico, talvez exista esse desejo. As viagens feitas para o exterior podem ser uma tentativa de, ele se sentindo suficientemente forte para manter seu “reinado” em terras brasileiras, começar a espalhar pelo mundo a sua influência.
[3] Um exemplo próximo com quem Lula soube aprender. Nosso presidente não quer passar pelo risco de perder um plebiscito como aconteceu com Hugo Chávez.
[4] Circuito Mato Grosso. <http://www.circuitomt.com.br/home/materia/413>. Acesso em 18/04/2008.

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