
Durante toda a leitura, a narração de Maquiavel me remetia a fazer uma ponte com o atual governo brasileiro. Assumo que pode ser uma ligação um tanto quanto forçada, mas não posso deixar de apontar os passos que analisei.
Para inicio, vou discorrer sobre a ascensão ao poder. O duque Valentino, que o autor de “O Príncipe” usa como exemplo, chega até o domínio do território através da ajuda francesa (o que não significa que a França seja totalmente confiável, mas sim que há interesses desse país por de trás dessa ascensão), e seduzindo partidários contrários para a sua causa com concessões. A “ajuda francesa” do presidente Lula, não se faz muito clara para mim, mas a questão de concessões é muito aparente. Um partido, chamado dos trabalhadores, com todo um histórico de luta social e esquerdista, fazendo alianças governamentais com siglas e nomes do Brasil que sempre tiveram visões econômicas e políticas totalmente diferentes. Cito aqui a aliança com o antigo Partido Liberal, e atração de empresários como Antonio Ermírio de Moraes para o lado dos trabalhadores.
Na seqüência do livro, Maquiavel cita como o Príncipe conseguiu a confiança do povo. Fala sobre como ele faz um governo forte, através de um representante, e depois mata-o, dizendo não ser responsável por nenhuma das agruras que o povo havia passado, deixando toda a “culpa” enterrada com o antigo regente morto. Nesse ponto também consegui criar uma ligação do passado com o presente. Entre os sofrimentos que o povo brasileiro já passou, podemos citar o da corrupção. Essa conjuntura, infelizmente, não mudou durante os últimos anos de governo petista. Entretanto, Lula se coloca sempre no lugar do príncipe que não sabia o que estava acontecendo e “mata” os seus subordinados, deixando que esses fiquem com a marca da culpa. Foi assim com José Dirceu, Aloísio Mercadante, Antonio Palocci e outros. Ao que tudo indica, nesse exato momento nosso presidente está “matando” mais uma aliada política, Dilma Rousseff.
Assim, a figura do presidente vai se tornando cada vez mais forte. No caso do Príncipe, a sua ambição era a de ocupar novos territórios. Acredito que a ambição de Lula seja poder burlar as regras da democracia: ficar acima do bem e do mal. Não há necessidade, e mesmo que houvesse não há força para isso, do presidente sair conquistando novas terras[2], mas ele enxerga uma possibilidade de se manter mais tempo no poder, e isso é encantador.
Depois de aniquilado seus problemas presentes, que são os nomes fortes dentro do partido para substituí-lo, deve-se pensar nos problemas futuros. Isso Maquiavel também previu. E se o povo brasileiro não apoiar o tão almejado terceiro mandato? Mas a isso também já está se dando um jeito. Ele sabe que a idéia de permanecer no poder não pode partir dele. Isso pareceria golpe, lembraria demais nosso vizinho Hugo Chávez[3]. Assim, aos poucos, estão saindo vozes, como a do vice-presidente José Alencar: “O povo quer terceiro mandato para Lula[4]”. Somado a tudo isso, ainda há mais um passo que existe no livro “O Príncipe”: existe uma ausência quase que total de oposição ao governo. O presidente praticamente não tem a quem temer.
Desse modo, percebe-se como um livro escrito à praticamente quinhentos anos atrás, ainda consegue explicar uma forma de governar. O poder está sempre em busca de aumentar sua força, e é praticamente inútil a tentativa de não se render ao seu magnetismo. Então, se nada na saúde de Lula mudar, ele poderá conseguir todos os seus objetivos.
[1] MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo : Martin Claret, 2007.
[2] Se essa discussão passar para o ponto de vista econômico, talvez exista esse desejo. As viagens feitas para o exterior podem ser uma tentativa de, ele se sentindo suficientemente forte para manter seu “reinado” em terras brasileiras, começar a espalhar pelo mundo a sua influência.
[3] Um exemplo próximo com quem Lula soube aprender. Nosso presidente não quer passar pelo risco de perder um plebiscito como aconteceu com Hugo Chávez.
[4] Circuito Mato Grosso. <http://www.circuitomt.com.br/home/materia/413>. Acesso em 18/04/2008.
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